Entrevista com Dona Janda



Haroldo e Jandira 
Jandira Cedran Pazinatto: por trás do eterno Haroldo há a eterna “dona Janda”
Jornal Terceira Visão – Sala de Visitas – 14 de dezembro de 2004

A máxima diz que, por trás de um grande um homem sempre há uma grande mulher. Pois é o que se pode dizer sobre o casal Pazinatto. Quando o fotógrafo valinhense Haroldo Pazinatto morreu em 27 de dezembro de 2001, deixou sua esposa Jandira de 73 anos, seus três filhos, seis netos e um bisneto. Mas esta senhora Paiznatto, nasica em Sousas, conta sobre várias épocas e situações, antes e depois de conhecer Haroldo.
            D. Janda, como é chamada por amigos e parentes, fez até o segundo grau escolar (ensino médio). Com 14 anos de idade, veio com a família para valinhos (pai, mãe e mais quatro irmãos), pois seu pai era comerciante e comprou um armazém (espécie de mercado) na cidade. D. Janda lembra que a mudança de Americana (cidade onde moravam) para valinhos aconteceu em 1946. No mesmo ano, conheceu seu marido e, em 1950, casaram. Ela conta também sobre várias passagens e experiências em sua vida impecável: sua infância, seu primeiro encontro com Haroldo, as dificuldades no dia-a-dia, seus dotes culinários, em suma, seu amor pela vida e pelo seu amor – o imortal Haroldo Pazinatto.

            VV – Quando a sra. Conheceu o Haroldo ? Como foi o início do relacionamento?
Jandira Cedran Pazinatto – Eu o conheci em 1946, ou seja, quando eu mudei para Valinhos. Eu tinha 14 anos. Pouco tempo depois, no dia de Natal, eu já estava com 15 anos e ele, com 22. Foi o início do namoro. E como aquela época havia rigidez dos pais com relação a namoro dos filhos, nós namorávamos somente dentro de casa e em 1947, ficamos noivos. Mas eu o conhecia de nome, porque eu morava em Americana e o Haroldo cantava em um programa de calouros, em Campinas. Então, eu não saía de casa só para ouvi-lo cantar. Ele cantava muito bem. Cantava músicas italianas e eu gostava. Depois , já em Valinhos, uma amiga (Solange) que trabalhava com ele no escritório da antiga Gessy Lever (Unilever) foi nosso cupido. Ela o apresentou para mim e logo, um mês depois, começamos a namorar. Casamos em 1950 e ficamos casados durante 51 anos.

VV – O Haroldo já era fotógrafo na época em que vocês se conheceram?
D. Janda - Ele tirava fotos há muitos anos. Ele nem tinha máquina. Emprestava a máquina do tio dele. Então, como ele gostava muito de música e comprava discos na Livraria Brasil, em Campinas, havia uma rifa de uma máquina de fotografia. Ele comprou um número e ganhou. Para ele, foi uma realização. Graças a rifa Valinhos tem foto antiga, porque o Haroldo tirava muitas fotos depois que ganhou a máquina. Ele gostava mesmo. A fotográfia era a vida dele.

VV – Como era o dia-a-dia do Haroldo?
D. Janda – Ultimamente ele só trabalhava. Ele tinha muito serviço, mas era uma pessoa extremamente bem humorada. Não mostrava ter problemas, por que não era triste. Ele até podia estar triste no momento, mas você nem desconfiava. Mesmo quando ele ficou doente, somente dois meses antes de falecer ele parou de trabalhar. Ele ficou muito triste quando soube que estava doente e soube dois anos antes de sua morte. Foi um sofrimento muito grande. Ele não podia mais dirigir, descer ou subir escadas. Ele ficou preso dentro de casa. Ele adorava ficar conversando com os amigos pelas ruas de Valinhos, e tinha muitos amigos. Ele ria muito, cantava no coral, enfim, tinha uma vida social bem ativa. Em casa, por exemplo, ele era mais amigo dos filhos do que pai. Conversavam sobre todos os assuntos. O Haroldo dava conselhos para eles. Eles sentiram muito quando o pai morreu [neste momento, D. Janda se emociona]. Já vai fazer três anos que ele faleceu.

VV – Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas pelo casal?
D. Janda – Todo casal tem dificuldades, não é? O Haroldo sempre me dava razão. Então, nós nunca discutimos sério. Mesmo porque eu discutia sozinha, por que ele não brigava, e falava “ahh ! Janda, mas é assim mesmo, você tem razão”. O Haroldo trabalhou muito durante toda vida. Era honesto e responsável com seus compromissos. Seu tempo com a família era pouco, desde quando começou a trabalhar com foto. Eu tive de ser um pouco pai e mãe com nossos filhos. Problemas com escola, matrícula, reuniões, tudo era eu. Ele corria atrás de prover o sustento da família. Veja bem, isso não era ruim, mesmo porque nossos filhos hoje são formados em universidades. Meus netos estão na faculdade hoje. Então , eu fui responsável pela casa, por que o Haroldo ficava trabalhando – atrás de fotografar festas, casamentos e eventos. Chegava em casa muito tarde e quase não tinha fim de semana.

VV – Qual o evento marcante o Haroldo participou ou promoveu?
D. Janda – Que ele participou foi a visita do primeiro cosmonauta que foi ao espaço – Yuri Gagarin. Ele veio ao Brasile seu avião desceu em Viracopos. Mas o Haroldo participou de tanta coisa. Ele ia sempreno Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. Ele acompanhou todo processo de construção do viaduto da Vila santana. Ele fotografou o evento que inaugurou a pedra fundamental da Santa Casa. A construção da matriz de São Sebastão. A construção do prédio da Gessy, que fica na parte da Avenida Dom Nery. O Haroldo fotografou Valinhos como ninguém. E ele aprendeu tudo sobre fotografia com o fotógrafo V8, de Campinas. Em 1961, ele saiu da Gessy e montou o estúdio, na Rua 7 de Setembro.

VV – Qual a foto que o Haroldo fez que a sra. mais gosta ?
D. Janda – Tem uma foto da construção da igreja que é linda. A matriz estava com os andaimes. A rua tinha carros antigos e uma jardineira (ônibus da época) do Capellato. Tem um furgão que era de uma padaria. É uma foto linda. Mas há outras fotos lindas. As fotos que ele tirou da estação ferroviária são lindas também.

VV – A sra. ainda possui fotos do Haroldo ?
D. Janda – Tenho. Mas meus filhos que guardam fotos e negativos no porão da minha casa. E como eu não posso ir lá, por que é escada e eu só ando com andador. Eu quebrei o fêmur e tenho polineuropatia que afeta os nervos. Daí fica mais difícil para eu procurar as fotos lá.

VV – Na sua opinião, Valinhos dá o devido valor aos trabalhos do Haroldo?
D. Janda – Dá . Seu nome é sempre lembrado e tanto é que o museu tem o seu nome. A Festa do Figo de 2002 prestou uma linda homenagem ao Haroldo.

VV -  O Haroldo tinha um hobby ?
D. Janda – Sim. A música. Ele cantava músicas italianas, sertanejas, etc. A parte de baixo da estante de casa possui discos de óperas completas. Ele adora óperas e músicas clássicas. Ele ia a São Paulo para assistir a concertos. Ele foi um dos fundadores do coral municipal de Valinhos. Antigamente chamava Coral Santa Cecília. Adorava cantar. Música, fotografia e família foram seus amores (risos).

VV – O que o Haroldo dizia sobre a fotografia? E como ele encarava as novas tecnologias (câmera digital, etc.)?
D. Janda – Ele tinha total interesse pela fotografia. Aprendeu o básico com o V8, comprou os materiais de foto ( máquinas, acessórios, materiais para revelação e fixação, etc..) e foi se especializando sozinho. Comprou máquinas profissionais. Ele não gostava muito de trabalhar com máquinas digitais. Ele preferia as suas convencionais, com filmes. Por sinal, estão todas em casa.

VV – Qual e a mensagem ou lição de vida que Haroldo deixou para Valinhos e para seus parentes e amigos?
D. Janda – Honestidade, alegria e profissionalismo. O Haroldo foi uma pessoa de muito caráter.

VV – Qual é a visão que a sra. tem de Valinhos ?
D. Janda – É uma cidade muito boa. É limpa, e boa de se viver. Toda minha família adora Valinhos. Meu pai faleceu ano passado, com 93 anos, e foi comerciante em Valinhos, durante 51 anos. A cidade tem muitas praças e jardins, muito verde. Tudo aqui é bom. O Haroldo dizia que nunca mudaria de Valinhos. Seus pais nasceram aqui e ele também. Eu não nasci aqui, mas me considero valinhense com orgulho. Ela mudou muito nos últimos anos. Seu povo é diferente. Tínhamos amizade com todo mundo. Hoje, passam pessoas na rua da minha casa que eu nunca vi na minha vida. Mas valinhos é muito boa e que tem boa água. Eu vejo nos noticiários outras cidades sofrendo com problemas de água, como Sumaré e Nova Odessa. Aqui, não há problemas desse tipo. Eu adoro Valinhos.